Como contar uma história significativa?

Garcia-Lorenzo (2010) enuncia que, ao contar uma história, pretendemos organizar nossas experiências ao longo de um enredo que o explica e o ordena. Para ela, essa ordem nos ajuda a dar sentido às nossas ações presentes, bem como nos orienta nas expectativas futuras. Em síntese, é por meio de narrativas que geramos e transmitimos nossos valores, normas e conhecimentos. A autora utiliza o pensamento de Freud para destacar que as histórias são uma maneira eficiente de reenquadrar, compreender e gerir emoções, além de permitirem a catarse para o lançamento e a reformulação dos sentimentos. Segundo Garcia-Lorenzo (2010), como as histórias permitem a expressão e a reconstrução de emoções dentro de um limite, elas nos fornecem um espaço seguro para explorarmos diferentes formas de ser e ver o mundo. Na esteira da autora, entendemos que por se caracterizar como um ato de contar histórias em formato digital, o DS pode então ser uma ferramenta para organizar nossas experiências no processo de aprendizagem. Tal concepção se fortalece mais ainda se lembrarmos que, para Vygotsky (1998), o aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo por meio do qual os aprendizes penetram na vida intelectual daqueles que os cercam e o ato de contar histórias pessoais digitais pode ser uma alavanca para tal interpenetração. 

MAS COMO CONTAR UMA HISTÓRIA?



Tendo em vista que o Storytelling é um gênero discursivo, que possui a capacidade de envolver, persuadir bem como chamar atenção para determinado ponto de vista e além disso, envolver o interlocutor a partir de uma lógica emocional é necessário atentar para algumas partes da construção desta narrativa:
Selecionar uma história, isto é, qual o tema, do que vai tratar, sobre alguém ou autobiográfica, um período histórico, uma grande descoberta, uma pessoa relevante; mapear a história, no sentido de escolher os melhores recursos que podem amplificar a ênfase necessária para chamar atenção, como uma trilha sonora, uma narração, uma imagem impactante; definir o tempo em que a ação acontece: passado, presente, ou do presente para o passado ou o contrário; identificar os elementos-chave e organizá-los em começo, meio e fim, de modo a prender a atenção do interlocutor até o final da narrativa, para isso é necessário encontrar um momento oportuno; as histórias parecem mais relevantes se estiverem inseridas em um contexto, explorar as emoções estabelecendo uma conexão afetiva de quem a vê, e sobretudo, observar como está sendo recebida.
Vale ressaltar, uma boa história é contada por alguém envolvido nela, o narrador não pode ser distante a ela, autenticidade gera credibilidade. A brevidade também é uma característica desse tipo de narrativa visual, o ritmo também desperta o interesse pelo final. Velocidade da fala, silêncios, suspense prendem a atenção e por isso são necessários.
A cada passo na construção do visual Storytelling, é de fundamental importância todos os elementos se relacionam entre si. Uma boa história precisa fazer sentido para quem a lê, deve produzir não somente conteúdo, mas agregar valor, sensibilizando a inteligência emocional das pessoas. De acordo com Domingos (2009, p.9)


Narrar-se é criar a ilusão no narrador de que o mesmo se tornou uma personagem protagonista arquetípica, em geral eufórica, do texto, então, narrado. Como não há narrativa que não seja seleção de fatos vividos por personagens em um determinado tempo e espaço, o ato de narrar é inevitavelmente um ato de deslocamento e de negociações entre a consciência e a inconsciência, gerando significadas formas de ser e estar do mundo. É uma forma de se mostrar e esconder-se, ao mesmo tempo. É o ponto de vista que determina a sequencialidade das ações narradas em que o narrador seleciona da vida o que ele deseja narrar. Portanto, não há jamais na narrativa um eu puro; ele sempre será um ser humano que traz em si não só os primórdios de sua existência, como os adaptam às novas maneiras de narrar a vida

           
Assim, o ato de narrar se torna uma forma de fazer-se presente do mundo, sobretudo dentro de uma perspectiva própria, uma forma de criar significados, transmitir conhecimento e criar uma relação constante entre o que é apresentado dentro da narrativa e o leitor/ouvinte. 

May Taherzadeh, cineastra inglesa e diretora do filme Mercy´s Blessing (uma Escolha), demonstrou a importância da apropriação das técnicas narrativas, e como uma história bem contada pode atrair os olhares e promover a reflexão. O curta metragem retrata a história de um casal de irmãos inseridos em um contexto de extrema pobreza no Malawi, na Àfrica, esta constitui um pano de fundo para discutir a igualdade de gênero e como a educação pode mudar a realidade da maioria das pessoas que vivem nesta condição, sobretudo as mulheres.

Confira!




Filme disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=n0nNs3ntPhU>




FONTES:


DOMINGOS, Adenil Alfeu. Storytelling: evolução, novas tecnologias e mídia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 32, 2009, Curitiba.

HACK, Josias Ricardo, GUEDES, Olga. Digital Storytelling, Educação Superior e Literacia Digital. Disponível em: < http://editora.unoesc.edu.br/index.php/roteiro/article/view/2065/pdf> Data de acesso: 28/07/2018.

Storytelling na educação: como engajar sua escola contando histórias. Disponível em: <https://escolasexponenciais.com.br/storytelling-na-educacao/#prettyPhoto> Data de acesso: 24/07/2018.

Comentários

Postagens mais visitadas